Crise
Presidente do Hospital de Caridade descarta fechamento do PS
Luiz Ernesto Vargas afasta a possibilidade após reunião com a categoria na noite de terça; reconhece, no entanto, as dívidas e lembra da falta de repasses do governo do Estado
Paulo Rossi -
Com salários atrasados há oito meses e sem perspectiva de um cronograma de pagamento, os médicos plantonistas do Pronto Socorro do Hospital da Caridade de Canguçu devem suspender as atividades a partir da próxima segunda-feira, conforme informação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
O presidente da instituição, Luiz Ernesto Vargas, no entanto, descarta essa possibilidade em princípio, o que atribui ao resultado de uma reunião com a categoria na terça-feira à noite. A hipótese de fechamento do hospital também está afastada por ele, ainda que alguns serviços continuem suspensos, como a realização de cirurgias eletivas e exames laboratoriais. O PS está atendendo apenas urgências e emergências.
Uma reunião com secretários municipais de saúde nesta quinta-feira às 14h, na 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), em Pelotas, vai tratar sobre as propostas feitas por alguns municípios, de assumirem os serviços que não estão sendo prestados pelo Hospital de Canguçu. Conforme Vargas, as 80 cirurgias eletivas que já estavam marcadas foram mantidas. “Vamos fazer em respeito às pessoas agendadas, mas novas não”, afirma.
Destaca que os salários dos médicos e as dívidas com prestadores de serviço estão em atraso de até oito meses, mas os salários dos funcionários estão em dia. “A situação é a mesma. O governo estadual não fez nada. Mas se a gente não retomar as cirurgias vão levar para outra cidade. Então se vão pagar para outra porque não pagam para nós?”, indaga, ao acrescentar que o repasse dos incentivos estaduais está com três meses de atraso. São R$ 136 mil/mês.
Vargas enfatiza que contrato é um acordo entre duas partes e não foi o hospital que quebrou primeiro. O diretor administrativo, Régis Silva, explica ter havido um inflacionamento muito grande no hospital no governo anterior, que disponibilizou mais recursos para compra de serviços e programas, e fez com que a instituição montasse uma nova estrutura. “Mas o dinheiro acabou”, fala. Em sua avaliação, o governo atual é técnico. “Antes não havia desconto por metas cumpridas, hoje existe e nosso papel é deflacionar o hospital”, completa.
Com o enxugamento da máquina, substituindo tecnologias por mais baratas, o hospital conseguiu economizar R$ 400 mil nos últimos quatro meses. Readequações necessárias, segundo Silva, para um hospital pobre, “que não pode fazer milagre”. “Estamos diminuindo a dependência do SUS para sair do atoleiro e apostando nos serviços particulares, melhorando nossa estrutura para vender mais exames de laboratórios”, conta. O hospital ganhou um fôlego com o recebimento de verba atrasada da Consulta Popular, de R$ 540 mil, utilizada para compra de material e medicamentos. Deu um fluxo de caixa, porém, de acordo com a direção, acabou.
Sem crédito na praça, o hospital tem dívidas de R$ 4,5 milhões para com fornecedores e um endividamento total de R$ 14 milhões. Mesmo tendo aumentando seu faturamento particular em R$ 100 mil ao mês, não conseguiu sair do buraco. Dos R$ 467 mil que entraram do Estado, foram descontados R$ 93 mil pelos procedimentos que não estão sendo feitos. A instituição atende atualmente 87% dos pacientes pelo SUS, quando deveria ter 60%, diz Silva. A ideia é investir mais e montar uma clínica particular para aumentar a receita e limpar o nome da instituição para que possa receber recursos de emendas parlamentares.
MP aciona município
O prefeito de Canguçu, Gérson Nunes (PT), salienta que o Hospital de Caridade é uma instituição filantrópica administrada por uma associação. Explica que a prefeitura tem uma relação contratual de aquisição de serviços, assim como o Estado. No caso do município, de atendimentos em ginecologia e obstetrícia, e pediatria. Recentemente foi adquirido também serviço de imagens e pronto atendimento nos finais de semana em que a prefeitura não atende. “Saímos de antigos convênios, de R$ 1,5 milhão, para R$ 3,2 milhões para contratar os do hospital”, frisa.
Nunes observa que Canguçu não tem municipalização plena da saúde e só pode atuar em atenção básica. Por isso compra os serviços do hospital. “Não posso investir recursos do município em áreas que não me competem, como a UTI para adultos”, destaca, ao informar que o Ministério Público (MP) entrou com ação civil pública contra o município pedindo a revisão dos contratos e requereu liminar para que suportasse o déficit do hospital, de R$ 228 mil/mês. “O juiz nos intimou, respondemos e ele não deu a liminar. A gente só não entende porque não entraram contra o Estado, pois o serviço de UTI está no contrato deles”, acentua. A prefeitura paga ao mês ao hospital pelos serviços prestados R$ 235 mil.
Situação preocupa usuários
O fantasma do fechamento preocupa os usuários dos hospital. A aposentada Maria Eldes Furtado, 64, comenta que uma instituição do porte da de Canguçu beneficia muita gente e há muitos anos. “A gente se sente triste de ver essa situação. Está todo mundo em pânico”, desabafa. Para o agricultor Leomar Neuenfeld, 42, o momento também é de receio. Ele mora no interior e utiliza os serviços de saúde do Hospital da Caridade sempre que a família precisa.
Resumo
Exames laboratoriais e cirurgias eletivas não estão sendo realizados.
A direção do hospital informa que a saúde mental já foi reativada. A titular da 3ª CRS, Kátia Hoffmann, contesta essa informação.
Salários dos médicos estão em atraso há oito meses, assim como dívidas com fornecedores
Salários dos funcionários estão em dia
Folha bruta de pagamento - R$ 450 mil
Valor mensal em empréstimos - R$ 250 mil
Contrato com o Estado de R$ 9 mil/mês em exames - Hospital argumenta que teria de ser R$ 48 mil, mas que consegue fazer apenas o relativo a R$ 7 mil , por isso vai apresentar uma contraproposta para baixar o total para 6,5 mil exames/mês e um valor de R$ 39 mil
Atraso nos repasses de incentivos do Estado é de três meses, totalizando de R$ 408 mil
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